quarta-feira, 15 de dezembro de 2010 | By: Letícia Campos

Pilot

Foi de um texto chamado “Sobre príncipes e sapos” que surgiu a vontade de criar um novo blog, dele extrai qual a importância de escritos anônimos: “Li clássicos. Mas foi pela palavra dos anônimos contadores de estórias de encantamento e no encantamento da palavra dos poetas que a letra morta ficou viva.” E mais importante que textos anônimos, o texto fala sobre beleza da alma e o feitiço do esquecimento.

O feitiço do esquecimento é suscitado pela palavra má, à palavra meramente técnica “que nós fez adormecer e esquecer a melodia bela”. O feitiço do esquecimento pairou sobre mim, e a beleza da alma, o amor, a bondade, amizades verdadeiras foram excluídas por aquilo que eu chamava de “ser racional”, não que eu esteja agora julgando o racionalismo, pois sou integralmente a favor de conhecimentos empíricos e da busca pela certeza. Mas o “ser racional” que há dias atrás morava em mim, levou temporariamente minha alma, e me fez esquecer que no mundo, há causas que não podem ser confirmadas pela experiência direta, coisas além da física.
    Então renasce minha alma que por uma ignorância qualquer julguei não possuir. “Quando um tolo vê uma maquina, pode ser que pense que ela funciona automaticamente, mas na realidade existe um mecânico, alguém que cuida dela e a controla. No entanto, às vezes, devido à nossa visão defeituosa, não podemos ver este controlador que controla a máquina”. [ Acharya- Fundador da Sociedade Internacional da  Consciência de Krishna]. Existe algo metafísico que controla meu corpo, até porque chamo ele de meu corpo isso significa que ele não sou eu. A alma ressurge e preenche o vazio incansável busca pelas perguntas sem respostas, pois como diz uma das minhas músicas preferidas “A dúvida é o preço da pureza ... é inútil ter certeza”.
    A estória do príncipe que virou sapo, ditas palavras para fazer as crianças dormirem, me acordaram, quebraram o feitiço que me fez acreditar que só porque alguns humanos perderam sua alma a minha jamais existiu. E o tempo que passei me educando para “realidade”, foi na verdade a mais pura e cruel ilusão.




"Era uma vez um príncipe de voz maravilhosa que encantava a todas as criaturas que o ouviam. Seu canto era tão belo que seduziu até a bruxa que morava na floresta negra e que por ele também se apaixonou. Mas, diferente de todos os outros, que se sentiam felizes só de ouvir, ela resolveu cantar também. Que lindo dueto faremos, ela pensou. E logo se pôs a cantar. Acontece, entretanto, que bruxas não conseguem cantar afinado. Bastava que ela abrisse a boca para que dela saíssem os sons mais bizarros, que soavam como o coaxar de sapos e rãs. A vaia foi geral. A bruxa se encheu de uma inveja raivosa e lançou contra ele o mais terrível dos feitiços: Se não posso cantar como você canta, farei com que você cante como eu canto. E o príncipe foi transformado num sapo. Envergonhado de sua nova forma ele fugiu e se escondeu no fundo da lagoa, onde moravam os sapos e rãs. Ele ficou em tudo parecido aos batráquios. Menos numa coisa. Continuou a cantar tão bonito quanto sempre cantara. Mas desta vez quem não gostou do canto do novo sapo foram os sapos e as rãs que só sabiam coaxar. O canto novo soava aos seus ouvidos como coisa de outro mundo, que perturbava a concordância de sua monotonia sapal. Severos, advertiram: Quem mora com rãs e sapos tem de coaxar como rãs e sapos. O príncipe sapo fez cessar o seu canto e não teve alternativas: teve de aprender a coaxar como todos os outros faziam. E tanto repetiu que acabou por se esquecer das canções de outrora. Não, não se esqueceu não... Porque, quando dormia, ele se lembrava e ouvia a música antiga proibida que continuava a se cantar dentro dele. Mas quando ele acordava, se esquecia. Mas não de tudo. Ficava uma saudade indefinível. Saudade, ele não sabia bem de quê. Saudade que lhe dizia que ele estava longe, muito longe do lar..." Rubem Alves

2 comentários:

Laísa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Laísa disse...

Não só sua, nossa música preferida... É por isso que venho a ser uma da placar, pra te dizer: "Não corra, não morra, não fume(...)", pra cortar o horizonte parecendo uma faca de dois gumes. A vida vale maia amiga, mais que a razão possui respostas. Vai além do que podemos explicar ou compreender. Caminhos certos são desenhados em estradas tortas. E saiba que te apoiarei, sempre.
Bjus e saudades das bagunças nossas de cada dia...

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